top of page

(remendos)

Medir Esforços

Ferro, plástico e remédio

18 x 5 x 32 cm

2022

crio uma tensão material entre o real e o comprimido para questionar as consequências da indústria farmacêutica no tratamento medicamentoso de depressão e ansiedade. evidenciar uma disputa de forças entre os agentes. o meu diagnóstico define a minha ação ou é uma ferramenta de sobrevivência? somando forma e cor, resisto em abrir mão dos meus sintomas temendo que a estrutura desmorone sem eles.

remendar é o ato de selar as frestas. unir dois pontos que se perderam ou nunca se conectaram, mas precisam ser um só.

nessa série eu costuro a bula (vestígios do meu tratamento) com retalhos de roupas minhas e de pessoas queridas e fantasias de carnaval (vestígios da minha cura). investigo o que está nas entrelinhas da memória, costurando as minhas ficções.

 

remendos é, acima de tudo, uma reconstrução da minha relação com a matéria, com os restos das relações, com as tentativas. colocar lado a lado esses retalhos e as belezas, a poesia, a peneira que tapa o sol. observar as sombras. colocar lantejoula nas minhas dores.

Jura que eu nunca mais vou chorar sozinho?

Acrílica sobre tela, tecidos, bula de remédio, miçangas, bordado, linhas,

aviamentos e penas

80 x 92 cm

2023

notas para criação de mapas

Acrílica, aquarela, spray, marcador permanente e bordado sobre bula de remédio

Dimensões variáveis

2020-2022

um dia na terapia eu disse que precisava de colo. sentia falta de ser acolhido, de que o mundo me abrigasse. sentia falta de pertencer. demanda de afeto, segundo o Edmilson. não sei se ficou claro… sentia falta do colo de mãe. agora inalcançável, uma memória borrada, um objeto perdido. a gente escolhe as coincidências, né? aprendi isso com o tempo.


 

logo depois, ainda com esse vazio latente, fiz um curso de lambe com o Alberto, no fim de 2021. queria testar novas coisas, levar o meu trabalho como artista pra outros suportes. fiquei ensaiando em casa, experimentando a cola, mas ainda sem um compromisso com a rua. tava dizendo pra mim mesmo que era uma espera pelo momento certo, mas era medo. e o medo foi importante. esse balé durou uns dois meses, até o início desse ano, depois de uma sequência de passos mal dançados.
 

muitas crises, muito ensaio e muito planejamento, de repente a vontade de colo falou mais alto que qualquer outra. a carne dormente, pulsando, o coração acelerado… a boca seca, o sangue quente, umas lágrimas e eu saí de bike… coloquei todos os planos na mochila colorida de couro que eu sinto falta de usar e rodei por horas. pensei em tantos lugares que me sentia abrigado, em tantos encontros interessantes com a cidade. passei pela esquina onde magoei alguém e olhei pelos vidros que testemunharam meu surto. continuei pedalando até encontrar meu oásis. cheguei no aeroporto que meus pais se conheceram e era óbvio desde o início. eu queria fazer eles testemunharem a minha vida um pouco mais. me verem feliz, bêbado, cuidando da minha casa e do meu cachorro, mas também fumando um maço de cigarro no ensaio do bloco que vira um cortejo até o mar.

tava ali a resposta. o colo não era um lugar, era uma ação. eu colo. eu, colo.

 

e demorou muito pra entender esse jogo de palavras cafajeste que meu inconsciente criou.

 

nos últimos meses mergulhei nessa. colei mais pinturas feitas a partir de lembranças, espalhei uns segredos, gritei meus medos, repeti o que me ouvi dizendo na análise e o que eu ouvia dizer sobre mim. elaborei meus sintomas, sempre foi sobre isso. entender de onde eu vim e o que me constrói. quais são as estruturas desse edifício. tentando encontrar o que eu escondi de mim. achando novas ilhas e antigas âncoras. e fazendo poesia no caminho.

julho/2022

todas as minhas cartas são de despedida
Acrílica e posca sobre papel craft
51 x 69cm
2021

segredo
Bordado sobre tule, veludo e pedraria sobre chassi de madeira
64 x 44 cm
2024

a bula e as caixas do anti-depressivo que uso há 7 anos fazem parte do universo material da minha pesquisa desde o início. 

busco entender quais  são os Sintomas que a população negra brasileira desenvolveu a partir da violência colonial e quais são as estratégias de fuga e manejo para esse cenário. funcionando também como um processo de manejo dos meus próprios sintomas, sublimo o peso e faço poesia.

a pesquisa é a criação de um mapa para a terra prometida pela psiquiatria: a sanidade.

contato

GOELA
 
o caminho por onde entra o remédio e sai o sintoma. via de mão dupla.
grito e segredo habitam.
a navalha corta, o braço forte abriga. instrumento de afeto, ponto fraco de desejo.
casa do pomo-de-adão por onde escorre o segredo do outro.

segredo.jpg

Ritual de revisão dos sintomas
Arames, fios, tecidos, embalagem de remédio, miçangas,
cigarro, isqueiro, copo e água.
50 x 50 cm (base) / 30 x 5 x 5 cm (parede)
2022

saulo martins

Saulo nasceu em Goiânia(GO), em 1994 e foi criado em Nova Iguaçu(RJ). Sua pesquisa ganha forma através da materialidade do tratamento psiquiátrico medicamentoso (caixas, bulas e embalagens), e da imaterialidade do tratamento psicoterapêutico (desejos, traumas, segredos e sonhos). Nesse inventário convivem o luto, o vestígios do carnaval, o mistério e as diferentes experiências de amar e ser amado. Sua prática busca questionar a patologização das subjetividades.

 

Em 2022 realizou a sua primeira exposição individual:  "mapear os dias, encarar as noites", no SESC São João de Meriti. Além disso participou da primeira residência de carnaval da Casa da Escada Colorida, em 2024 (RJ) e de exposições coletivas como Coemergências (2024-Paço Imperial-RJ); Poéticas do Agora (2024-CCJF-RJ); Bienal Black Art (2023-RJ); aqui onde agora está, (2022-Casa da Escada Colorida) dentre outras.

Quid pro quo

Acrílica sobre tela, tecidos, aviamentos, miçangas, crochê, embalagem e comprimidos

67 x 82 cm

2023

________

 

“Quid pro quo”, do latim “Tomar uma coisa por outra”. Equívoco, engano, confusão de palavras.

Folie à deux

Acrílica sobre tela, tecidos, bula de remédio, miçangas, bordado, linhas e comprimidos

62 x 79 cm

2023

 

____

 

“Folie à deux”, do francês “Loucura à dois”. termo utilizado pela psiquiatria para

designar o “transtorno delirante induzido”.

bottom of page